Imagens (s)em movimento

Dois videos, duas formas de se locomover pela cidade:

Ato-debate: o transporte público em questão

arte: Carlos Latuff

Desde o começo do ano, cidadãos paulistanos têm saído às ruas semanalmente para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus na capital. Toda quinta-feira, os atos convocados pelo Comitê de Luta Contra o Aumento e pelo Movimento Passe Livre vem mobilizando milhares de pessoas.

Hoje, terça-feira (29), às 18h, o Comitê promove um ato-debate no anfiteatro da faculdade de História da USP para avaliar o movimento e planejar os próximos passos.

Em janeiro deste ano, a prefeitura aumentou em 11,11% o valor cobrado nos coletivos e a tarifa subiu de R$ 2,70 para R$ 3,00. O índice é quase o dobro da inflação acumulada em 2010 (5,9%). O aumento de 2011 foi o terceiro da gestão Gilberto Kassab.

Além das manifestações de rua, os militantes do MPL realizam protestos em eventos que fazem parte da agenda do prefeito, como o lançamento do novo partido criado por Kassab, o PSD, ou uma visita do prefeito a um evento do setor imobiliário em Paris (França).

Na última quinta-feira (24), a Justiça de São Paulo determinou que a Prefeitura explique o aumento da tarifa no prazo de dez dias. O pedido foi feito por vereadores do PT, que alegam falhas nas planilhas apresentadas pelo Executivo para justificar o reajuste.

O estímulo ao transporte público é uma das formas de reduzir o congestionamento e ampliar a mobilidade urbana na cidade. A prática de preços proibitivos e a falta de investimentos em corredores exclusivos e na qualidade do transporte empurra os cidadãos para o transporte individual, degradando a cidade e as condições de vida da população.

Vá de Bike e Blog do Sakamoto concorrem a prêmio internacional

"Carrofaixa" / autor desconhecido

O blog Vá de Bike foi selecionado pelo juri do concurso The BOBs (“best of blogs”) entre centenas de indicados e está concorrendo na categoria de “Melhor blog em português”.

A premiação, realizada pela agência de notícias alemã Deutsche Welle, acontece há sete anos e é uma das mais conceituadas em todo o mundo. Nas 17 categorias em disputa estão trabalhos que demonstram relevância e qualidade em diversas áreas e idiomas.

Em 2006, o blog Apocalipse Motorizado recebeu o prêmio do juri. Este ano, o Vá de Bike foi selecionado junto com outros 10 finalistas para a escolha dos internautas.

No ar desde 2002, o Vá de Bike é hoje um dos melhores canais de informação sobre a mobilidade por bicicletas em São Paulo.

Mantido pelo analista de sistemas Willian Cruz, o Vá de Bike se destaca pela pertinência dos temas abordados, pela alta qualidade dos textos e pelo acompanhamento permanente das políticas e iniciativas relacionadas à mobilidade inteligente.

Se você não conhece o trabalho, vale a visita.

Se você conhece, vale o voto.

Para votar, é necessário visitar a página do concurso e fazer o login utilizando a sua conta no Twitter ou Facebook.

Depois é só escolher a categoria “Best Blog Portuguese” e votar no Vá de Bike.

A votação vai até o dia 11 de abril. É possível (e importante) votar novamente a cada 24 horas.

Outros temas
Outro blog bastante competente em sua área é o Blog do Sakamoto, mantido pelo jornalista e doutor em Ciência Política Leonardo Sakamoto.

Concorrendo na categoria “Special Topic Award Human Rights”, o Blog do Sakamoto aborda “direitos humanos, trabalho decente e meio ambiente” desde 2006.

Saudações aos parceiros de jornada, parabéns pelo excelente trabalho e obrigado pela contribuição para um mundo melhor e uma mídia mais decente.

Página do concurso
Texto no vá de bike sobre a votação
Blog do Sakamoto

Jogos de bicicleta

Esconde-esconde, amarelinha, pega-pega, monstro coscão… Monstro coscão? Pois este é o nome de uma das brincadeiras ensinadas no folheto “6 Jogos de Bicicleta – treinamento divertido para todas as crianças”, produzido pela Federação dos Ciclistas Dinamarqueses e traduzido pela Associação Transporte Ativo.

Os jogos, indicados para crianças a partir dos 2 anos, estimulam as habilidades dos pequenos com as magrelas, são divertidos e promovem a atividade física.

Numa era onde o interior de carros, apartamentos ou shopping centers começa a se tornar paisagem quase que exclusiva para um número cada vez maior de crianças, atividades ao ar livre se tornam ainda mais importantes.

A utilização de bicicletas desde criança prepara os pequenos cidadãos para o futuro, despertando o gosto pela locomoção sobre duas rodas e nenhum motor.

“Uma vez que você descobre a liberdade que andar de bicicleta lhe dá e a facilidade de ir e vir, você se torna um ciclista para toda a vida.”, define o embaixador dinamarques Birger Riis-Jørgensen no blog da Transporte Ativo.

O folheto 6 Jogos de Bicicleta não é a primeira publicação da Transporte Ativo dedicada às crianças. A seção Transporte Ativo na Escola traz informações pedagógicas, sugestões de jogos e outras publicações feitas para crianças, pais e professores.

Vale a pena dar uma olhada, por exemplo, no livro Crianças em Movimento ou ler o belíssimo O Passeio de Fleur, capaz de emocionar e ensinar pessoas de todas as idades.

Sem pudor de mudar o mundo

foto: Santiago Luz

No último sábado (12), mais de duas centenas de pessoas participaram da quarta edição da Pedalada Pelada em São Paulo. Esta foi a primeira edição noturna do evento e também a primeira marcada exclusivamente pelo sorriso e pelos aplausos da população que viu o alegre cortejo passar.

Nas edições anteriores, a presença ostensiva da polícia (disposta a impedir a nudez) e da mídia (disposta a sexualizar a nudez) transformaram o passeio-manifestação em um jogo de gato e rato, com pessoas detidas e um clima de constrangimento sensacionalista que ficou bem longe das ruas em 2011.

foto: cc Ian Thomaz

Mistura de celebração e protesto, a World Naked Bike Ride (Pedalada Pelada Mundial) acontece uma vez por ano em diversas cidades. Começou em 2004, na Espanha e no Canadá, como forma de protesto contra a dependência por petróleo. Depois, se espalhou pelo mundo, ganhando contornos diversos em cada lugar.

Em São Paulo, a festa dos corpos nus, vestidos com roupas de banho ou decorados por pinturas coloridas, chama atenção para a “exposição indecente ao trânsito” de pedestres, cadeirantes, ciclistas e passageiros do transporte público, sujeitos à péssimas e perigosas condições de locomoção na cidade.

foto: Anderson Barbosa

Por volta das 20h do último sábado, a população se aglomerava nas calçadas da Av. Paulista. Câmeras, celulares e sorrisos apontados para os ciclistas com os corpos pintados.

Aplausos e palavras de apoio ainda pipocavam aqui e ali quando as primeiras bicicletas começaram a dar voltas em torno da praça. Aos poucos, a massa estava formada e começava a fluir pela avenida.

Enquanto os ciclistas seguiam em direção ao Paraíso, motoristas que participavam do congestionamento no sentido Consolação olhavam com admiração para o outro lado da avenida.

foto: cc Ian Thomaz

De um lado da rua, ciclistas se moviam de maneira fluida e ocupavam o espaço de maneira inteligente em uma ação direta para melhorar a realidade. Do outro lado da rua, carros e ônibus praticamente parados no congestionamento causado pelo excesso de carros.

No meio da massa, alguém grita “trânsito obsceno”. A frase, que sintetizava a paisagem da avenida naquele momento, começa a ser entoada pela multidão pelada e vira um bordão recorrente durante o percurso. Seria repetida em congestionamentos na av. Brasil e na rua Mourato Coelho, onde carros estacionados dos dois lados da via se somavam aos carros praticamente estacionados nas faixas de rolamento e causavam uma sensação claustrofóbica que já se tornou “normal” para os motoristas paulistanos.

foto: Santiago Luz

Não é preciso ser muito empolgado para se divertir com um grupo de ciclistas coloridos, festivos e alegres. A Pedalada Pelada, assim como as bicicletadas que acontecem na última sexta-feira do mês, demonstram ao vivo uma possibilidade bem mais interessante de ocupação das ruas do que o congestionamento agressivo e barulhento de carros com uma pessoa dentro.

Não é preciso ser muito esperto para entender que os ciclistas reivindicam melhores condições de circulação nas ruas. A mensagem é obvia e, em 2011, ficou mais clara ainda por conta do incidente em Porto Alegre, quando um motorista atropelou intencionalmente dezenas de ciclistas durante uma bicicletada.

foto: Santiago Luz

Munidos de símbolos, imagens, panfletos e frases, os ciclistas da Pedalada Pelada espalharam de maneira alegre a mensagem: é possível e necessário compartilhar o espaço e conviver nas ruas.

A simpatia da população foi ampla, geral e irrestrita: pessoas de todas as idades, classes sociais, crenças ou religiões aplaudiam a massa pelada durante o trajeto. Uma pesquisa rápida no twitter por “ciclistas pelados” ou “pedalada pelada” comprova a ideia de que a população paulistana quer mais (e não menos) eventos que tragam alegria e propaguem a convivência.

foto: Santiago Luz

A nudez exibida durante a Pedalada Pelada não tem nada de obscena e está longe de ter qualquer caráter sexual. Os corpos dos ciclistas tinham formas e tipos variados.

Corpos normais, de pessoas normais. Gordos ou magros, peludos ou pelados: padrões distantes daqueles expostos e impostos sexualmente pela mídia, inclusive em programas destinados ao público infantil.

foto: Santiago Luz

Durante algumas horas da noite de sábado, o falso moralismo brasileiro parece ter sucumbido à alegria genuína de seres humanos íntegros e inteiros, que querem apenas andar de bicicleta e conviver pacificamente com os outros seres e com o planeta.

A cena de um “carnaval para Jesus” encontrando a Pedalada Pelada na rua Augusta, bem na frente de um carro de polícia, vai ficar na memória de quem viu.

foto: Santiago Luz

A coexistência necessária para a sobrevivência de uma sociedade e a tolerância exigida em uma cidade cosmopolita, por alguns instantes, se tornaram reais naquela noite de sábado. Sem dúvida, a Pedalada Pelada 2011 trouxe a linha do horizonte um pouco mais para perto.

Leia também:

WNRB 2011: ser, ter fazer – As bicicletas

Pedalada Pelada do jeitinho que a gente gosta – FelizCidade Feliz

O sucesso da quarta edição do WNBR em SP – Renata Falzoni

Mais de 200 ciclistas participam da Pedalada Pelada em SP – Folha.com

Veja também os vídeos do @opalmas e do JP Amaral

Ou visite o clipping da Pedalada Pelada 2011 no wiki do World Naked Bike Ride

A triste carnificina de carnaval

instalação no viaduto Dr. Arnaldo em 09/03/2011 / foto: Diego Ferrari

Segundo relatório divulgado pela Polícia Rodoviária Federal, 213 pessoas morreram e 2.441 ficaram feridas em estradas federais durante o carnaval.

O número de mortos em rodovias federais foi 47,9% maior do que em 2010. No carnaval deste ano, houve 1 morto para cada 19 incidentes envolvendo veículos motorizados.

A estatística não contabiliza os incidentes em rodovias estaduais ou nas áreas urbanas. Não é difícil estimar que por volta de 1000 pessoas perderam a vida em estradas, ruas e avenidas brasileiras durante a folia. Outras tantas passarão a carregar sequelas permanentes dos ferimentos.

Imprudência e alta velocidade são, quase sempre, as razões dos incidentes rodoviários.

A “falha humana”, no entanto, não é simples expressão do acaso: o país que literalmente destruiu sua malha ferroviária em pouco mais de meio século agora colhe os frutos de uma política rodoviarista que continua a vigorar.

Não é sensato que um país com dimensões continentais tenha como principal meio de transporte de pessoas e cargas os automóveis, ônibus e caminhões. Não é racional que tenhamos hoje uma malha ferroviária menor do que há 50 anos.

Se a reversão do quadro de imobilidade urbana, congestionamento e poluição depende da priorização de ônibus, metrô, bondes, trens, calçadas, bicicletas em detrimento do automóvel, a diminuição da carnificina que se repete a cada feriado depende fundamentalmente do resgate dos trens (de cargas e passageiros) e da implementação de hidrovias.

Continuar investindo em rodovias não tornará nossas rodovias mais seguras. O investimento na melhora das condições para ônibus, carros e motos é importante, mas não deve se sobrepor à busca por alternativas mais seguras e racionais de transporte.

Mortes por homicídios e em transportes no Brasil – Panóptico

Dois sites sobre transporte ferroviário:

Estações Ferroviárias

Ferrovias do Brasil

Manifestações e arte contra a barbárie

arte: Gabriel Almeida / POA 2502

Nesta quarta-feira de cinzas, a partir das 19h, acontece em São Paulo o lançamento da revista digital POA 2502, que reúne trabalhos de 30 artistas sobre o atropelamento de ciclistas em Porto Alegre.

A publicação, que foi realizada inteiramente com softwares livres, pode ser baixada neste link.

O lançamento, seguido de bate-papo, acontece na Praça do Ciclista (av. Paulista X Consolação).

Na semana que antecedeu o carnaval, dezenas de manifestações de solidariedadeaos ciclistas de Porto Alegre reuniram milhares de ciclistas ao redor do planeta.

O blog Vá de Bike coletou alguns relatos nesta postagem. Veja também o clipping de notícias sobre o caso neste link.

Ciclistas de São Paulo iniciam série de manifestações em solidariedade à POA

foto: cc Gonzalo Cuéllar

A noite chuvosa de ontem em São Paulo não impediu que mais de cem ciclistas se encontrassem na avenida Paulista para prestar solidariedade aos colegas de Porto Alegre, vítimas de um brutal atropelamento na última sexta-feira (25).

A mobilização em São Paulo foi a primeira de uma série de atos que irão acontecer em várias cidades do país e do mundo nos próximos dias (veja o calendário ao final do texto).

Enquanto as novas pistas da Marginal Tietê ficavam debaixo d’água e os quilômetros de congestionamento se acumulavam a cada esquina da capital, os ciclistas pediam respeito nas ruas e o fim da impunidade nos crimes de trânsito.

A manifestação começou com um “die-in” em frente à Praça do Ciclista. O ato, que consiste em deitar-se no chão para denunciar algum tipo de violência, durou pouco mais de um minuto.

Em seguida, sob aplausos e chuva, o grupo começou a caminhar no sentido Paraíso da avenida, entoando frases como “não foi acidente” ou “mais amor, menos motor”.

Durante todo o percurso, as bicicletas foram empurradas em sinal de protesto e a caminhada seguiu pelas duas faixas da esquerda da avenida (a Bicicletada de São Paulo costuma deixar livres as faixas e corredores de ônibus).

A caminhada, que durou pouco mais de uma hora, seguiu até a av. Brigadeiro Luís Antônio, retornando até a Praça do Ciclista em seguida. Centenas de panfletos foram distribuídos aos motoristas e pedestres, chamando a atenção para o caso de Porto Alegre e para o direito do ciclista de utilizar as ruas com segurança.

Repercussão
O atropelamento em Porto Alegre ganhou repercussão internacional. Sites e veículos de notícia em países como Portugal, EUA, Holanda, Bélgica, Reino Unido, Argentina, Chile, Espanha relataram o acontecimento, classificando-o como “barbárie”. Redes de TV como CBS, Fox News e BBC também destacaram o acontecimento.

No Brasil, a notícia do atropelamento em Porto Alegre ganhou expressão nacional ainda no sábado, com reportagens nos principais telejornais. Na segunda-feira, a tag #naofoiacidente chegou ao primeiro lugar nos “trending topics” do Twitter brasileiro.

Autoridades, políticos e até celebridades como o ex-jogador Ronaldo se mostraram indignados com o acontecimento.

Na segunda-feira, os promotores Eugênio Amorim e Lúcia Helena Callegari, do Ministério Público gaúcho, pediram a prisão preventiva do motorista. O MP afirma tratar-se de um crime doloso (com intenção de matar) e duplamente qualificado, por ter sido cometido por motivo fútil e por um meio que impossibilitou defesa das vítimas.

Calendário
Hoje, terça-feira (01/03), os ciclistas de Porto Alegre se reúnem no Largo Zumbi dos Palmares para uma bicicletada, a partir das 18h30.

Em Belo Horizonte, o Rolê Urbano das Terças começa às 20h, na Praça da Liberdade, e será dedicado aos ciclistas gaúchos.

A Massa Crítica de Buenos Aires (Argentina) também sai às ruas hoje. A partir das 18h30, os ciclistas se encontram no Obelisco e pedalam até a embaixada brasileira.

Na quarta-feira (02), Rio de Janeiro e Curitiba promovem bicicletadas de solidariedade. No Rio, o encontro acontece às 18h, na Cinelândia (em frente ao Odeon). Em Curitiba, também às 18h, a Bicicletada se encontra no pátio da reitoria da UFPR.

Também na quarta-feira, ciclistas de Bogotá (Colômbia) se encontram na plazoleta K15 calle 85. Em Natal (RN), a manifestação acontece a partir das 20h, em frente ao IFRN.

Na quinta-feira, Pelotas, Brasília, Florianópolis, Goiânia, Niterói e Recife. Realizam atos semelhantes.

O blog Vá de Bike fez uma postagem bem organizada com o calendário de mobilizações. Veja mais detalhes por lá.

Relatos, fotos e vídeos da manifestação em SP:
relato no Vá de Bike
relato no Eu Vou de Bike
matéria no Bom Dia Brasil (Globo)
fotos Gonzalo Cuéllar
fotos Eduardo Dias de Andrade
fotos everton137
fotos luddista
vídeo spamhaterbr

clipping de notícias sobre o caso

Por Thiago Benicchio

Não foi acidente

arte: tncbaggins

Que nome você daria à atitude de alguém que empunha uma metralhadora e dispara uma rajada de balas contra mais de uma centena de pessoas?

Até mesmo no Arizona, estado norte-americano que permite aos seus cidadãos o porte de armas inclusive em locais públicos, tal atitude seria considerada uma tentativa de homicídio. O autor dos disparos seria preso, mesmo que ninguém tivesse morrido.

Na última sexta-feira (25), em Porto Alegre (RS), um motorista apontou seu carro, acelerou e disparou intencionalmente contra mais de uma centena de pessoas que pedalavam na rua José do Patrocínio. Mais de 20 de ciclistas ficaram feridos.

Até o momento, as autoridades gaúchas consideram que o motorista do Golf preto é “suspeito” de um “acidente de trânsito” que resultou em “lesão corporal”.

Talvez a visão das autoridades ajude a dar algumas pistas importantes sobre a (aparentemente) inexplicável atitude do motorista.

Segundo o Mapa da Violência, estudo divulgado pelo Ministério da Justiça no começo do ano, os “acidentes” de trânsito matam em escala semelhante aos homicídios por armas de fogo.

Cerca de 40 mil pessoas perdem a vida por ano no trânsito brasileiro. No Estado de São Paulo, colisões e atropelamentos são as maiores responsáveis pela morte de jovens.

Mesmo assim, continuamos a chamar esses casos de “acidentes”, como se fossem fatalidades, coisas que acontecem por razões inexplicáveis ou misteriosas.

No trânsito, os números do que consideramos fruto do acaso são comparáveis aos de uma guerra civil.

As ideias e conceitos que orientaram nossas cidades na tentativa de garantir o fluxo infinito de automóveis estão à beira do colapso e se mostraram fracassadas, inclusive em seu objetivo principal de atender quem utiliza automóveis.

Boa parte do tempo desperdiçado por um motorista dentro de um carro nas ruas de uma cidade média ou grande do Brasil é consequência da presença de outros carros nas ruas.

Os ciclistas que foram atingidos na rua José do Patrocínio participavam de uma mobilização internacional, chamada de Massa Crítica ou Bicicletada.

Nascida em 1992 na cidade de São Francisco (EUA), a Massa Crítica não é um movimento tradicional: não tem organizadores, regimentos ou plataforma e consiste essencialmente em um encontro para pedalar em grupo que acontece durante algumas horas da última sexta-feira de cada mês.

Submetidos ao cotidiano de convivência com motoristas agressivos, máquinas perigosas e ambientes hostis, uma vez por mês a massa de ciclistas subverte o caótico paradigma da imobilidade urbana em várias cidades do mundo.

Motoristas impacientes nem sempre ficam contentes ao perceber que terão que esperar alguns minutos ou andar em velocidades baixas durante o “congestionamento de bicicletas”. Mesmo assim, são muito raras as vezes em que esse desconforto resulta em algum tipo de agressão.

Estar preso no trânsito por alguns minutos de vez em quando faz parte da vida de quem escolhe andar de carro. Seja por conta de uma manifestação, passeio, cortejo fúnebre, chuva ou, quase sempre, pelo excesso de carros nas ruas, dirigir na cidade é sinônimo de paciência.

Muitas partes do mundo já entenderam que é necessário melhorar todas as formas de transporte urbano mais inteligentes que o automóvel e redistribuir o espaço urbano.

Não é preciso eliminar os carros das cidades, mas é necessário que pedestres, ciclistas, passageiros de ônibus, trens e metrôs sejam respeitados e valorizados nas ruas, recebendo também a maior parte do investimento e da atenção dos órgãos públicos.

O motorista que avançou contra a Bicicletada de Porto Alegre não precisaria saber nem concordar com as ideias acima.

Ele poderia ficar extremamente bravo com o grupo de ciclistas que ocupava a rua à sua frente, buzinar e até chamar a polícia.

Mas é inadmissível que tenha agido com tamanha brutalidade. O atropelamento durante a bicicletada de Porto Alegre não foi um acidente.

arte: cabelo

Mobilizações de ciclistas devem acontecer em diversas cidades do Brasil e do mundo nos próximos dias.

O blog da massa crítica de São Francisco propõe dedicar o próximo encontro, no dia 25 de março, aos gaúchos.

Na capital paulista, uma bicicletada em solidariedade aos ciclistas gaúchos acontece na segunda-feira (28), a partir das 18h, na Praça do Ciclista (mais informações aqui ou aqui)

Na terça, a partir das 18h30, a massa crítica de Porto Alegre se encontra no Largo Zumbi dos Palmares.

(Atualização em 28/11 – 18h05): No Rio de Janeiro, a Bicicletada em solidariedade aos ciclistas de POA acontecerá na quarta-feira (02/02), às 18h, com saída da Cinelândia (em frente ao Cine Odeon).

Em Curitiba, também na quarta-feira, a partir das 18h, com encontro no Pátio da Reitoria da UFPR.

Visite o blog da massa crítica de Porto Alegre, confira aqui um clipping de notícias sobre o assunto ou acompanhe a tag #naofoiacidente no twitter.

Por Thiago Benicchio


Os autores

Daniel Santini é jornalista, tem 31 anos e pedala uma bicicleta vermelha em São Paulo. Também colaboram no blog Gisele Brito e Thiago Benicchio.

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