Bicicletadas são explosões coletivas de alegria e o prazer é mais subversivo do que a raiva (texto em inglês). Essas são as premissas para tentar entender o que aconteceu em São Paulo na noite de sexta-feira, 28 de janeiro, na primeira Bicicletada de 2011.
O tema escolhido para este mês foi o aumento do preço do ônibus na capital. Em 5 de janeiro, a tarifa passou de R$ 2,70 para R$ 3, o que fez com que São Paulo permanecesse como a cidade com o ônibus mais caro do Brasil. Uma cidade em que compensa mais comprar uma moto do que utilizar transporte coletivo é uma cidade condenada à fumaça e aos congestionamentos. E a não ser que você goste de pedalar respirando um ar nojento, vai concordar que faz total sentido unir esforços com quem defende melhorias no sistema de transporte coletivo e priorização de investimentos para o público em detrimento do transporte individual motorizado (leia-se ampliação de avenidas, túneis, pontes faraônicas e outras obras que só beneficiam quem tem carro e tornam a cidade mais cinza e feia).
O tema da Bicicletada foi este, muita gente levou cartazes reclamando da tarifa, teve cantoria, distribuição de panfletos e interação com motoqueiros, motoristas e pedestres. Os que esperavam nos pontos aplaudiram as reivindicações. Mas não foi só isso que aconteceu.
Felicidade
Mais do que reclamar e gritar, a Massa Crítica celebrou. Encontros, reencontros, conversas, crianças com os pais, sobrinhos, namorados de mãos dadas pedalando, ciclistas ajudando skatistas nas subidas, gente feliz junta em uma confusão de sorrisos e luzes coloridas piscando. Arrisco que havia umas 500 pessoas, talvez menos, talvez mais.
Fato é que tinha tanta gente que desta vez até um helicóptero a Polícia Militar destacou para sobrevoar o grupo, com direito a holofotes sobre a Massa. A PM, que na semana retrasada havia reprimido com violência um protesto contra o aumento da tarifa, desta vez acompanhou com respeito e até ajudou a bloquear o trânsito para o grupo fluir sem interrupções, minimizando o congestionamento. Tirando um ou outra discussão e tensão entre ciclistas e PMs inconformados em não encontrar o líder em um movimento radicalmente horizontal e sem hierarquia, tudo correu bem.
Aliás, travar o tráfego só por travar, interromper a circulação de ônibus ou hostilizar motoristas durante a Bicicletada, são armas pouco eficazes que mais provocam raiva do que reflexão. Vale a premissa que abre este texto, seduzir é mais eficiente do que obrigar. O movimento tem que ser de convite. Motoristas são aliados naturais em uma disputa por cidades com trânsito mais eficiente – ninguém quer ficar parado o dia todo.
O grande barato desta bicicletada foi o respeito e a alegria contagiante durante todo o percurso. Como quando, na Avenida Paulista ainda, todos pararam na faixa quando alguém gritou “PEDEEESTRE”. Não tem preço ver o sorriso da senhora atravessando, encantada. Ou ver o pique do Márcio Campos, incansável distribuindo panfletos e explicações simpáticas aos que tiveram que aguardar para a Massa passar. Ele ouviu de um mulher sentada no banco de passageiro: “vocês estão devolvendo a vida e a alma perdidas a essa cidade”.
Seduzir é isso. É escrever sobre política em um nível acadêmico refinado com tesão como fez o Odir neste texto aqui ao falar da Bicicletada; é ter vontade, acreditar e querer uma cidade diferente.
São Paulo pode ser divertida, colorida e entusiasmante, e não essa coisa cinza, disforme e eficiente ao extremo que estamos construindo. Se gosta desta ideia, considere-se convidado para a próxima Bicicletada, na última sexta-feira do mês, às 20h, na Praça do Ciclista, esquina das avenidas Consolação e Paulista.
Veja também:
Fotos no Flickr do Everton Alvarenga
Fotos no Flickr do Radamés Ajna
Fotos no ImageSchack do Adriano
Ações assim devem ser mesmo lembrada por nós, indiferente da causa, ela parece estar se divertindo muito.
parabéns Isabela.
Parabéns pela matéria e claro pelo evento.
Precisamos de mais projetos como este por São Paulo inteiro.
Mais divulgação pelas redes TV e jornais.
Olá. Adorei a matéria muito boa mesmo. É de atitudes como está que fazem toda a diferença.
Parabéns Santini. Cada dia melhor o blog. Gostei muito das premissas. É fundamental divulga-las para não arrumarmos mais inimigos no trânsito, mas sim aliados. Abraço grande, Juliano
O custo da passagem de ônibus é igual ao custo do transporte das empresas dividido pelo número de passageiros pagantes (e estudante vale meio passageiro nesse cálculo). Assim, em um pais onde o imposto é abusivo, não há isenções ou redução para compra de ônibus (existe para mototaxi, para taxi, mas não para onibus), e o governo inventa gratuidades a torto e a direito, a resposta está aí.
E no dia que alguem for a favor de qualquer aumento (menos o do proprio salário) alguem faz uma reportagem, oras. Pq ninguem gosta de aumento, seja ele do açucar, do pão, ou da cerveja.
Vamos fazer uma passeata pq subiu a cerveja?