Arquivo para 12 de janeiro de 2011

A hora de expandir o aluguel de bicicletas

As bicicletas já estão por todas as partes em São Paulo. Só não vê quem não quer. Foto: Daniel Santini

Na segunda-feira, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista em que o novo secretário de Transportes Metropolitanos Jurandir Fernandes disse que pretendia rever o aluguel de bicicletas em São Paulo (aqui para assinantes, aqui para quem não for assinante). Em meio a críticas diretas à gestão de seu antecessor, o ex-secretário José Luiz Portella, ele aventou a possibilidade de o programa atual ser marketing e jurou que, olhando números, se constasse que a utilização é impressionante, aumentaria tudo. Literalmente, o secretário afirmou o seguinte sobre bicicletas ao repórter Alencar Izidoro:

Sou apaixonado por ciclovia. Mas não quero fazer marketing com coisa séria. Quero ver se a história de alugar bicicleta é eficiente, útil ou se foi marketing. Vale todo mundo dizer que em São Paulo tem um sistema de bicicletas igual ao de Paris e depois eu ter que explicar que não é bem assim? Não consigo explicar o inexplicável. Agora, se disserem que há utilização impressionante, juro que aumento tudo.

Pois bem, secretário, a utilização é impressionante. Vamos aos fatos. Mesmo com todas as dificuldades de se utilizar um veículo não poluente em uma cidade projetada para carros, tem bastante gente utilizando regularmente o sistema. O Instituto Parada Vital, que administra os bicicletários públicos em estacionamentos, metrôs e terminais de ônibus EMTU na região metropolitana, informa que, de setembro de 2008 até dezembro de 2010, o sistema foi utilizado 164.680 vezes, sendo 67.238 para empréstimos e 97.442 para estacionamento de bicicletas.

Até agora 19.109 usuários se cadastraram. E, preste atenção, secretário, estamos falando de um sistema até agora nanico para o tamanho de São Paulo, com apenas 23 postos, sendo oito deles em garagens e não em estações de metrô ou trem. Paris, que o senhor citou, tem mais de 2.000 postos e a propaganda deles é que a cada 300 metros é possível encontrar um deles.

Perguntei ao pessoal do Instituto Parada Vital o que eles achavam da possibilidade de o sistema todo ser cancelado. A resposta deles é que “esses números provam a importância do uso de bicicletas em uma cidade como São Paulo, cujo sistema de transportes, muitas vezes, não favorece o uso desse meio de locomoção” e que o projeto é “pioneiro no Brasil e tem como principal objetivo propor soluções que preservem o meio ambiente e promovam o desenvolvimento sustentável em grandes centros urbanos.  A iniciativa visa estimular o uso de transportes alternativos que contribuam com a redução de emissão gases poluentes.”

Cidade inóspita
Pois é. São Paulo não é simpática ao ciclista ou ao pedestre, apesar de haver milhares de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte regularmente. O sucateamento do transporte público e a falta de opções a quem não tem dinheiro para manter um carro fazem com que muitos tenham optado por pedalar para se deslocar.

Incentivar quem se locomove sem poluir, sem ameaçar a vida dos outros, sem fazer barulho ou degradar áreas, deveria ser incentivado pelo poder público. Ampliar e oferecer alternativas de acesso a este modal é um dos passos que devem ser tomados. E isso não se limita a construir ciclovias ou ciclofaixas de lazer (que sim, são importantes, mas não bastam).

Em Paris, que o senhor citou, eles trabalham com um conceito que não envolve apenas ciclovias, mas sim compartilhamento de ruas – método que torna as vias mais seguras até para quem está dirigindo.

É impossível fazer comparações, mas se o senhor ou alguém da sua equipe pesquisar, verá que sistemas públicos de aluguel de bicicletas estão sendo adotados e expandidos, sendo entendidos como métodos complementares para reduzir o trânsito e a poluição nas principais capitais do planeta. Além de Paris e Londres, há exemplos em Santiago, no Chile, e mesmo cidades com a topografia irregular semelhante a São Paulo como São Francisco, nos Estados Unidos; ou, falando em semelhanças, com trânsito infernal e dimensões respeitáveis de megalópole como a Cidade do México.

Já demos o primeiro passo em São Paulo, secretário. Os números são consideráveis e o senhor tem uma base para trabalhar a expansão do sistema de aluguel.

É hora de expandir, Jurandir.


Os autores

Daniel Santini é jornalista, tem 31 anos e pedala uma bicicleta vermelha em São Paulo. Também colaboram no blog Gisele Brito e Thiago Benicchio.

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