Archive for the 'Direito à Cidade' Category



Sobre Bicicletadas, rebeldia e causas

Há tempos o direito à manifestação nas grandes cidades vem sendo contestado. Em nome da ordem, qualquer tentativa de chamar atenção para os problemas cotidianos é condenada e, eventualmente, criminalizada e reprimida com violência. Ai de quem ousar interromper o sagrado trânsito da cidade com cartazes, narizes de palhaço, apitos e cantoria. Se não for para travar as ruas enfileirando carros, não pode; é caso de polícia, de mandar batalhão, tropa especial, de bater e prender.

A repressão é construída e reforçada por microfones moralistas e gritos pela manutenção da ordem, sempre a ordem. Uma lógica que ignora as falhas e limitações do sistema, que se faz cega para os vícios na política, no judiciário, para os interesses na manutenção de estruturas sociais pouco democráticas e injustas. Retirar a legitimidade de manifestações populares, classificar seus participantes de “rebeldes sem causa”, é um jeito de impedir ou pelo menos frear mudanças.

Tal discurso é violento. O Atropelador de Porto Alegre pode até não bater bem dos pinos, mas existe uma relação entre o que ele fez e a percepção de que quem participava da Massa Crítica naquele dia não tinha o direito de estar ali, de existir. É uma ideia construída com mensagens diárias, com a repetição à exaustão de expressões como “desocupados” ou “baderneiros”, os “sem causa”.

Bicicletadas
As Bicicletadas ou Massas Críticas são movimentos espontâneos, sem líderes ou chefes, manifestações coletivas de pessoas que querem mudanças, que não se conformam mais em viver em cidades entupidas de carros e fumaças. São pessoas dispostas a gastar tempo e energia em busca de tais transformações, e não desocupados. Gente disposta a brigar por isso.

Mesmo assim, os protestos têm sido pacíficos,  alegres e diversificados. Reúnem crianças, mulheres, gente de todas as cores e idades, gente tinindo de pedalar e gente fora de forma. Envolvem pessoas solidárias, que entendem que é preciso compartilhar as ruas – e lutam para que, em vez de apenas carros, outros modais também sejam valorizados pelas autoridades. É uma massa capaz de manifestações épicas, como a do último Dia Mundial Sem Carro.

Dá até para criticar o trancamento de ruas e avenidas – e tem gente que faz isso com elegância e criatividade, o que provoca mais reflexão do que ataques baseados em estereótipos. Vale dar uma espiada neste vídeo gringo gravado e editado por cara que ficou preso no trânsito dentro de um ônibus por mais de dez minutos devido à Massa Crítica. É uma crítica forte, que faz pensar, que provoca o questionamento interno, necessário para rever ou reafirmar direções.

E é para pensar mesmo. Muitos colegas não concordam que fechar o trânsito é uma boa estratégia para chamar atenção para os problemas de mobilidade da cidade. Mas quer crítica maior para a ineficácia do sistema de transportes do que travar o próprio trânsito com bicicletas? Que outra forma melhor de chamar a limitação de manter o trasnporte individual como principal sistema? De chamar a atenção para a falta de interação entre os diversos meios de transporte? Para a falta de diversidade? Para a Ditadura dos Carros, que reinam absolutos dominando recursos públicos e a atenção da mídia, mesmo sendo opção da minoria da população?

Hoje é dia de Bicicletada em São Paulo e em algumas das principais capitais do país. Mais aqui.

Nasceu ((o)) eco Bicicletas!

É impossível discutir conservação da natureza sem pensar e debater mobilidade urbana. Ignorar a relação direta entre o consumo exagerado e irresponsável de recursos naturais nas grandes cidades e a devastação predatória nos rincões do Brasil e do mundo, é manter a defesa do meio ambiente em um nível raso demais, quase vazio de sentido. É vestir apenas slogans, assumir um discurso moralista limitado, é defender restrições e ditar regras para comunidades ribeirinhas nas florestas e, ao mesmo tempo, manter um padrão de vida baseado em alto consumo e, consequentemente alta produção de lixo. É não ligar os pontos.

Ciclovia em Buenos Aires. Foto: Gisele Brito (clique na imagem)

É com base nesta ideia de que é necessário estabelecer e explicitar conexões que, ao mesmo tempo em foi criado  ((0)) eco Amazonia, uma frente formada por colaboradores de nove países em que a floresta está presente com notícias em espanhol, inglês e português, surgiu também ((o)) eco Cidades, focado nos grandes centros urbanos. E, é neste contexto de ampliar as discussões sobre como vivemos, que nasceu o Outras Vias.

Desde então, ((0)) eco cresceu e o entusiasmo dos editores (e dos leitores, como dá para ver nos comentários aqui do Outras Vias) por bicicletas também – justamente pelo entendimento de que este modal pode ser bastante útil na construção de novos modelos de sociedade, mais justos e equilibrados. Agora o portal passou por uma reforma gráfica, que, além de deixar as páginas mais bonitas, serviu também como uma oportunidade de abrir novas editorias. O novo site entrou no ar esta semana e as bicicletas ganharam um espaço exclusivo.

Nasceu ((0)) eco Bicicletas!

Crise e oportunidade
A frustração generalizada com o trânsito, a insensatez da rotina de desperdício de combustível e índices assustadores poluição, a busca por alternativas tem feito cada vez mais gente considerar e adotar a bicicleta como transporte. Em diversas regiões o poder público federal, estadual e municipal começa a entender que acabar com congestionamentos exige soluções mais complexas do que simplesmente construir mais pontes, avenidas e túneis, do que asfaltar mais. Este espaço nasce como uma área de debate de como viabilizar essas mudanças.

A ideia é agregar novos autores, trazer opiniões diferentes e divergentes, mostrar as experiências e tentativas de novos planos cicloviários em diferentes contextos. O Outras Vias continuará como um espaço para discussão de mobilidade em geral e defesa de transportes coletivos, com muito sobre bicicleta como não poderia deixar de ser; e terá uma cara cada vez mais de blog mesmo, com textos mais pessoais e opinativos (aliás, já estamos trabalhando em uma reforma gráfica no blog também!).

((0)) eco Bicicletas surge como um espaço informativo recheado de notícias, reportagens, vídeos e fotos, além de artigos de novos articulistas. De cara, dois textos em destaque: o Ricardo Braga-Neto escreve sobre ciclovias em Manaus, e a Gisele Brito, que os leitores do Outras Vias já conhecem, conta sobre a aposta de Buenos Aires nas bikes.

Bicicleta em Manaus (clique na imagem)

Mulheres, bicicletas e fundamentalismos

Mulher com o chador caminha sobre ciclovia pouco utilizada em Teerã

No Irã, mulher não pode andar de bicicleta. Ninguém soube me explicar o porquê. Talvez seja pela posição do corpo na hora de pedalar, sensual demais para uma sociedade dominada pela imposição de padrões morais ainda tão rígidos. Talvez seja porque a bicicleta é um veículo diretamente associado à liberdade, autonomia e independência. E no Irã, as restrições de gênero são comuns. As mulheres são obrigadas a cobrir o cabelo, todas elas. As mulheres não podem nem se hospedar em um hotel sem a autorização dos pais ou dos maridos.

Mas que ninguém se engane achando que é uma sociedade de mulheres submissas ou frágeis. Conversei com garotas e senhoras inteligentíssimas, cientes de seus direitos e ávidas por mudanças. As que conheci não só participavam ativamente do núcleo familiar, muitas vezes como protagonistas nas casas, como também atuavam em esferas públicas com destaque. Foi uma médica aposentada quem me deu o melhor retrato da situação dos hospitais do país. Foi uma psicóloga que me mostrou como elas atiram o cigarro longe discretamente ao ver a aproximação dos Basijs, a temida polícia de costumes – fumar em público não é uma atividade bem vista para mulheres. Foi uma universitária quem contou em detalhes a silenciosa revolução sexual em curso entre as mais jovens. Que ninguém se engane, o Irã está mudando.

A situação é complexa e qualquer simplificação é perigosa em análises sobre o país. O governo atual, marcado pela restrição de liberdades individuais, é resultado mais das pressões externas do que de um fundamentalismo generalizado. Os mais radicais, que defendem medidas e leis extremamente conservadoras, são claramente minoria. O problema é que, com o país cercado por tropas estrangeiras e alvo da cobiça das nações mais ricas e poderosas do planeta, a solução radical passa a ser vista por muitos como o melhor caminho para manter a independência.

O Irã é rico em reservas naturais. Não só petróleo, mas também do tipo de gás que será necessário para manter a Europa aquecida em invernos cada vez mais extremos em função das mudanças climáticas. Fica pertinho da Rússia, que tem interesse em controlar este mercado. E é cercado pelos países de mais alta taxa de crescimento populacional do planeta: China, Índia e Paquistão, três gigantes que também precisarão de cada vez mais recursos naturais. E, para completar, faz fronteira com Iraque e Afeganistão, vizinhos não por acaso invadidos pelos Estados Unidos. É em meio a essa pressão externa generalizada de outros fundamentalistas que o fundamentalismo floresce e dá frutos no Irã.

Fundamentalismos

Ponto de ônibus em Isfahan

Fundamentalismo não é exclusividade ou sinônimo de islamismo. O teólogo Leonardo Boff, em seu livro Fundamentalismo, discute a questão em profundidade, levantando questionamentos e dados sobre práticas fundamentalistas católicas, como a proibição do uso de preservativos – orientação que teve papel decisivo na propagação da AIDS na África. Proibir o uso de um pano sobre a cabeça para quem acredita que isso é sagrado é tão violento quanto tornar obrigatória sua utilização. No Irã, quando tentaram proibir o véu, algumas mulheres passaram anos trancadas em casa, simplesmente incapazes de cumprir a determinação de exibir os cabelos.

O diferente precisa ser respeitado. Muita gente boa tem escrito sobre a importância da convivência entre diferentes religiões e da tolerância. Visões sobre a relação entre espiritualidade e humanismo independem da fé. Aliás, talvez tolerância nem seja a melhor palavra, como ensina o bispo católico Dom Pedro Luiz Casaldáliga, que em 1977 escreveu o livro “Creio na Justiça e na Esperança”, uma aula de convivência e utopia:

Por pura necessidade de sobrevivência, o choque de civilizações terá de ser substituído por diálogo. Há no mundo um bilhão
de muçulmanos, de várias culturas e povos diferentes. Uma sexta parte da humanidade é muçulmana. E não adianta ser tolerante. Tolerância é  o que havia na guerra fria, algo muito raquítico. José Saramago inventou a palavra igualância. Podemos aprender muito com os muçulmanos, um certo sentido de contemplação, de adoração a Deus. E acho sarcástico que se queira apresentar aquele como o maior terrorismo da história. É uma blasfêmia. Esquecem-se o holocausto, Hiroshima, todas as guerras e invasões que tiveram o patrocínio dos Estados Unidos. E sobretudo a conquista da América e o que se fez com os índios, inclusive naquele país.
Dom Pedro Luiz Casaldáliga, em entrevista à revista IstoÉ

O escritor paquistanês Tariq Ali, que é ateu, é outro que tem insistido na importância da convivência e diálogo entre pessoas de opiniões e fés diferentes. Seus romances são deliciosos – “À sombra das romanzeiras” e “O livro de Saladino” são obras em que referências históricas e ficção são misturadas com talento. O islamismo está longe de ser sinônimo de fundamentalismo. Aliás, como aponta o professor de filosofia Mario Miranda Filho, “pensar, pesquisar, falar, trocar, discutir, desafiar e repensar” são parte de uma cultura de tolerância e tradição de livre pensamento originalmente conhecida como ‘Ijtihad’. Ela surgiu e se desenvolveu no Islã entre 750 e 1250.

O Outras Vias passa longe da campanha generalizada de islamofobia que tem como objetivo principal caracterizar o Irã como um país do “Eixo do Mal” e os imigrantes árabes, turcos e iranianos como ignorantes fanáticos indesejáveis – imaginário que serve de pretexto para ações violentas como intervenções militares e deportações. É fácil colar rótulos e caricaturizar com moldes toscos realidades complexas – vide a tentativa de associar a tragédia que aconteceu no Rio de Janeiro com fanatismo religioso (leia ótimos textos a respeito no IG e no G1).

Mulheres
Isso posto, fica mais fácil falar sobre o absurdo de se proibir mulheres de pedalar. Oficializar a lógica machista no trânsito, com agressividade, força e potência como prioridades no lugar da gentileza, compartilhamento e suavidade só tornam as ruas mais duras e tristes. Não por acaso, a circulação nas principais cidades iranianas é tensa. E feia.

Sim, feia; porque beleza é instrumento de mudança, principalmente no embate contra a lógica do medo e das restrições. A imagem de mulheres independentes e livres pedalando, se divertindo no caminho para o trabalho, é por demais perturbadora para que qualquer motorista preso no trânsito não pense, considere opções, se questione. O sucesso que as Pedalinas, coletivo feminino de ciclistas, têm obtido em São Paulo e o nascimento de novos grupos em outras cidades, como as Cíclicas em Porto Alegre, só prova o pontencial de se buscar alternativas com sensibilidade e beleza.

Triste o país em que as mulheres não podem pedalar

As bicicletas do Irã

Isfahan, Irã

Ia escrever sobre mulheres e mobilidade no Irã, mas a observação do amigo João Lacerda nos comentários do último texto me animaram a mostrar que, sim, existem outras vias também no país. Compartilho abaixo fotos de bicicletas do Irã. São meios de transporte utilizados por trabalhadores que encaram um trânsito mais caótico e perigoso que o de São Paulo. Gente que trilha um caminho alternativo ao da poluição e do medo, deixando as ruas mais bonitas. A arquitetura islâmica é impressionante por si só, com seus arcos, mesquitas e minaretes; com bicicletas por perto, fica difícil não parar e ficar só olhando.

Arquitetura islâmica. Isfahan

Devido à poluição, é comum ver pessoas com máscaras. Isfahan

Bicicletas de um programa público de aluguel. Isfahan

Modelos chineses e essas bolsas laterais são comuns nas ruas do Irã. Isfahan

Ao fundo, mulher com o chador, manto negro. Isfahan

Ponte Allah Verdi Khan, Isfahan

Praça principal da cidade. Isfahan

Próximo à entrada de uma mesquita. Yazd

Cena típica nas ruas desertas da cidade. Yazd

Jovem brinca de fazer manobras em praça. Shiraz

No trânsito. Shiraz

Bicicletas Hafez (o nome é uma alusão a um dos principais poetas do país). Shiraz

Vendedor de balões. Shiraz

 

Ah, no próximo texto informações sobre trânsito e gênero no país. Aliás, não é por acaso que não tem nenhuma foto de mulheres pedalando. Mulher não pode andar de bicicleta no Irã. Mais em breve.

Jogos de bicicleta

Esconde-esconde, amarelinha, pega-pega, monstro coscão… Monstro coscão? Pois este é o nome de uma das brincadeiras ensinadas no folheto “6 Jogos de Bicicleta – treinamento divertido para todas as crianças”, produzido pela Federação dos Ciclistas Dinamarqueses e traduzido pela Associação Transporte Ativo.

Os jogos, indicados para crianças a partir dos 2 anos, estimulam as habilidades dos pequenos com as magrelas, são divertidos e promovem a atividade física.

Numa era onde o interior de carros, apartamentos ou shopping centers começa a se tornar paisagem quase que exclusiva para um número cada vez maior de crianças, atividades ao ar livre se tornam ainda mais importantes.

A utilização de bicicletas desde criança prepara os pequenos cidadãos para o futuro, despertando o gosto pela locomoção sobre duas rodas e nenhum motor.

“Uma vez que você descobre a liberdade que andar de bicicleta lhe dá e a facilidade de ir e vir, você se torna um ciclista para toda a vida.”, define o embaixador dinamarques Birger Riis-Jørgensen no blog da Transporte Ativo.

O folheto 6 Jogos de Bicicleta não é a primeira publicação da Transporte Ativo dedicada às crianças. A seção Transporte Ativo na Escola traz informações pedagógicas, sugestões de jogos e outras publicações feitas para crianças, pais e professores.

Vale a pena dar uma olhada, por exemplo, no livro Crianças em Movimento ou ler o belíssimo O Passeio de Fleur, capaz de emocionar e ensinar pessoas de todas as idades.

Ciclistas de São Paulo iniciam série de manifestações em solidariedade à POA

foto: cc Gonzalo Cuéllar

A noite chuvosa de ontem em São Paulo não impediu que mais de cem ciclistas se encontrassem na avenida Paulista para prestar solidariedade aos colegas de Porto Alegre, vítimas de um brutal atropelamento na última sexta-feira (25).

A mobilização em São Paulo foi a primeira de uma série de atos que irão acontecer em várias cidades do país e do mundo nos próximos dias (veja o calendário ao final do texto).

Enquanto as novas pistas da Marginal Tietê ficavam debaixo d’água e os quilômetros de congestionamento se acumulavam a cada esquina da capital, os ciclistas pediam respeito nas ruas e o fim da impunidade nos crimes de trânsito.

A manifestação começou com um “die-in” em frente à Praça do Ciclista. O ato, que consiste em deitar-se no chão para denunciar algum tipo de violência, durou pouco mais de um minuto.

Em seguida, sob aplausos e chuva, o grupo começou a caminhar no sentido Paraíso da avenida, entoando frases como “não foi acidente” ou “mais amor, menos motor”.

Durante todo o percurso, as bicicletas foram empurradas em sinal de protesto e a caminhada seguiu pelas duas faixas da esquerda da avenida (a Bicicletada de São Paulo costuma deixar livres as faixas e corredores de ônibus).

A caminhada, que durou pouco mais de uma hora, seguiu até a av. Brigadeiro Luís Antônio, retornando até a Praça do Ciclista em seguida. Centenas de panfletos foram distribuídos aos motoristas e pedestres, chamando a atenção para o caso de Porto Alegre e para o direito do ciclista de utilizar as ruas com segurança.

Repercussão
O atropelamento em Porto Alegre ganhou repercussão internacional. Sites e veículos de notícia em países como Portugal, EUA, Holanda, Bélgica, Reino Unido, Argentina, Chile, Espanha relataram o acontecimento, classificando-o como “barbárie”. Redes de TV como CBS, Fox News e BBC também destacaram o acontecimento.

No Brasil, a notícia do atropelamento em Porto Alegre ganhou expressão nacional ainda no sábado, com reportagens nos principais telejornais. Na segunda-feira, a tag #naofoiacidente chegou ao primeiro lugar nos “trending topics” do Twitter brasileiro.

Autoridades, políticos e até celebridades como o ex-jogador Ronaldo se mostraram indignados com o acontecimento.

Na segunda-feira, os promotores Eugênio Amorim e Lúcia Helena Callegari, do Ministério Público gaúcho, pediram a prisão preventiva do motorista. O MP afirma tratar-se de um crime doloso (com intenção de matar) e duplamente qualificado, por ter sido cometido por motivo fútil e por um meio que impossibilitou defesa das vítimas.

Calendário
Hoje, terça-feira (01/03), os ciclistas de Porto Alegre se reúnem no Largo Zumbi dos Palmares para uma bicicletada, a partir das 18h30.

Em Belo Horizonte, o Rolê Urbano das Terças começa às 20h, na Praça da Liberdade, e será dedicado aos ciclistas gaúchos.

A Massa Crítica de Buenos Aires (Argentina) também sai às ruas hoje. A partir das 18h30, os ciclistas se encontram no Obelisco e pedalam até a embaixada brasileira.

Na quarta-feira (02), Rio de Janeiro e Curitiba promovem bicicletadas de solidariedade. No Rio, o encontro acontece às 18h, na Cinelândia (em frente ao Odeon). Em Curitiba, também às 18h, a Bicicletada se encontra no pátio da reitoria da UFPR.

Também na quarta-feira, ciclistas de Bogotá (Colômbia) se encontram na plazoleta K15 calle 85. Em Natal (RN), a manifestação acontece a partir das 20h, em frente ao IFRN.

Na quinta-feira, Pelotas, Brasília, Florianópolis, Goiânia, Niterói e Recife. Realizam atos semelhantes.

O blog Vá de Bike fez uma postagem bem organizada com o calendário de mobilizações. Veja mais detalhes por lá.

Relatos, fotos e vídeos da manifestação em SP:
relato no Vá de Bike
relato no Eu Vou de Bike
matéria no Bom Dia Brasil (Globo)
fotos Gonzalo Cuéllar
fotos Eduardo Dias de Andrade
fotos everton137
fotos luddista
vídeo spamhaterbr

clipping de notícias sobre o caso

Por Thiago Benicchio

Não foi acidente

arte: tncbaggins

Que nome você daria à atitude de alguém que empunha uma metralhadora e dispara uma rajada de balas contra mais de uma centena de pessoas?

Até mesmo no Arizona, estado norte-americano que permite aos seus cidadãos o porte de armas inclusive em locais públicos, tal atitude seria considerada uma tentativa de homicídio. O autor dos disparos seria preso, mesmo que ninguém tivesse morrido.

Na última sexta-feira (25), em Porto Alegre (RS), um motorista apontou seu carro, acelerou e disparou intencionalmente contra mais de uma centena de pessoas que pedalavam na rua José do Patrocínio. Mais de 20 de ciclistas ficaram feridos.

Até o momento, as autoridades gaúchas consideram que o motorista do Golf preto é “suspeito” de um “acidente de trânsito” que resultou em “lesão corporal”.

Talvez a visão das autoridades ajude a dar algumas pistas importantes sobre a (aparentemente) inexplicável atitude do motorista.

Segundo o Mapa da Violência, estudo divulgado pelo Ministério da Justiça no começo do ano, os “acidentes” de trânsito matam em escala semelhante aos homicídios por armas de fogo.

Cerca de 40 mil pessoas perdem a vida por ano no trânsito brasileiro. No Estado de São Paulo, colisões e atropelamentos são as maiores responsáveis pela morte de jovens.

Mesmo assim, continuamos a chamar esses casos de “acidentes”, como se fossem fatalidades, coisas que acontecem por razões inexplicáveis ou misteriosas.

No trânsito, os números do que consideramos fruto do acaso são comparáveis aos de uma guerra civil.

As ideias e conceitos que orientaram nossas cidades na tentativa de garantir o fluxo infinito de automóveis estão à beira do colapso e se mostraram fracassadas, inclusive em seu objetivo principal de atender quem utiliza automóveis.

Boa parte do tempo desperdiçado por um motorista dentro de um carro nas ruas de uma cidade média ou grande do Brasil é consequência da presença de outros carros nas ruas.

Os ciclistas que foram atingidos na rua José do Patrocínio participavam de uma mobilização internacional, chamada de Massa Crítica ou Bicicletada.

Nascida em 1992 na cidade de São Francisco (EUA), a Massa Crítica não é um movimento tradicional: não tem organizadores, regimentos ou plataforma e consiste essencialmente em um encontro para pedalar em grupo que acontece durante algumas horas da última sexta-feira de cada mês.

Submetidos ao cotidiano de convivência com motoristas agressivos, máquinas perigosas e ambientes hostis, uma vez por mês a massa de ciclistas subverte o caótico paradigma da imobilidade urbana em várias cidades do mundo.

Motoristas impacientes nem sempre ficam contentes ao perceber que terão que esperar alguns minutos ou andar em velocidades baixas durante o “congestionamento de bicicletas”. Mesmo assim, são muito raras as vezes em que esse desconforto resulta em algum tipo de agressão.

Estar preso no trânsito por alguns minutos de vez em quando faz parte da vida de quem escolhe andar de carro. Seja por conta de uma manifestação, passeio, cortejo fúnebre, chuva ou, quase sempre, pelo excesso de carros nas ruas, dirigir na cidade é sinônimo de paciência.

Muitas partes do mundo já entenderam que é necessário melhorar todas as formas de transporte urbano mais inteligentes que o automóvel e redistribuir o espaço urbano.

Não é preciso eliminar os carros das cidades, mas é necessário que pedestres, ciclistas, passageiros de ônibus, trens e metrôs sejam respeitados e valorizados nas ruas, recebendo também a maior parte do investimento e da atenção dos órgãos públicos.

O motorista que avançou contra a Bicicletada de Porto Alegre não precisaria saber nem concordar com as ideias acima.

Ele poderia ficar extremamente bravo com o grupo de ciclistas que ocupava a rua à sua frente, buzinar e até chamar a polícia.

Mas é inadmissível que tenha agido com tamanha brutalidade. O atropelamento durante a bicicletada de Porto Alegre não foi um acidente.

arte: cabelo

Mobilizações de ciclistas devem acontecer em diversas cidades do Brasil e do mundo nos próximos dias.

O blog da massa crítica de São Francisco propõe dedicar o próximo encontro, no dia 25 de março, aos gaúchos.

Na capital paulista, uma bicicletada em solidariedade aos ciclistas gaúchos acontece na segunda-feira (28), a partir das 18h, na Praça do Ciclista (mais informações aqui ou aqui)

Na terça, a partir das 18h30, a massa crítica de Porto Alegre se encontra no Largo Zumbi dos Palmares.

(Atualização em 28/11 – 18h05): No Rio de Janeiro, a Bicicletada em solidariedade aos ciclistas de POA acontecerá na quarta-feira (02/02), às 18h, com saída da Cinelândia (em frente ao Cine Odeon).

Em Curitiba, também na quarta-feira, a partir das 18h, com encontro no Pátio da Reitoria da UFPR.

Visite o blog da massa crítica de Porto Alegre, confira aqui um clipping de notícias sobre o assunto ou acompanhe a tag #naofoiacidente no twitter.

Por Thiago Benicchio

Cidades e ideias

E setembro o Diogo Pires Ferreira escreveu pelo e-mail indicado na coluna aí do lado pedindo referências, informações e fontes que pudessem ajudar em uma dissertação de mestrado em urbanismo com foco em mobilidade. Respondi indicando, além dos livros que estão na Biblioteca e de alguns que ainda não tive tempo de ler e resenhar, contatos e outros canais que, pensei, pudessem ser úteis.
Essa semana ele entrou em contato novamente, dessa vez para agradecer a ajuda e mostrar um pouquinho do projeto no qual tem trabalhado nos últimos anos. Explico melhor. O Diogo tem um sonho ambicioso, desses que emocionam a gente e fazem pensar que as mudanças são sim possíveis.
Ele nasceu em São Luís do Maranhão, depois viveu em São Paulo, de onde saiu para fazer um Master Europeu de Urbanismo. Estudou na Univesitat Politècnica de Catalunya, em Barcelona, e na Delft University of Technology, na Holanda. Viveu o caos das ruas de São Paulo, aprendeu a organização do transporte coletivo em Barcelona e se apaixonou pelas bicicletas da Holanda.
Conhecimento
Nesse meio tempo, ele aprendeu com alguns dos principais pesquisadores de mobilidade do planeta, leu, estudou modelos, pensou, vivenciou diferentes situações. Tudo com o objetivo de aplicar esse conhecimento na sua São Luís do Maranhão, com propostas bastante diferentes das de urbanistas que seguem insistindo em sistemas que, claramente, não funcionam. Os congestionamentos diários são decorrência natural de modelos inviáveis de organização de cidades e de trânsito colocados em prática por administradores públicos no mínimo mal informados – para não chamá-los de irresponsáveis. São Paulo é um triste exemplo.
O Diogo se volta contra, nas palavras dele, “a mentalidade atrofiada que só pensam em viadutos e mais viadutos ‘solucionando’ – diga-se de passagem ‘transferindo a outros pontos’ – problemas de transito e achando que se resume a isto ‘solucionar os problemas de uma cidade’.”

Ele deve apresentar a tese somente em abril, mas já tem o que mostrar. As ideias que defende foram reunidas em um vídeo bem editado e bem explicativo que segue abaixo. Quando for publicado, o estudo completo ficará disponível em PDF no site da universidade e será comentado no Outras Vias.

O projeto ainda está em andamento e aberto a participações. Dá para colaborar respondendo esse formulário de pesquisa ou preenchendo essa ficha de cadastro.

Novos tempos
As pessoas não estão contentes em viver em cidades poluídas e congestionadas. Não é à toa que o debate sobre novos modelos de organização ganha força no Brasil e no mundo. No último fim de semana aconteceu um debate em Piracicaba com representantes do Instituto CicloBr e da Ciclocidade.

Até março, é possível inscrever projetos para participar do X Congresso Internacional em Direção a Cidades Livres de Carros, que desta vez acontece em Guadalajara, no México.

Ônibus lotado em um dia de chuva

Ônibus lotado na Av. Sumaré. As luzes de fora são de carros travando o trânsito, a maioria com uma pessoa só dentro

São Paulo, mais uma vez, entrou em colapso ontem. Bastou uma chuva mais forte para metade da cidade alagar, semáforos travarem, o trânsito ficar maluco e, consequentemente, o sistema de transporte coletivo travar. Eu precisei pegar um ônibus ontem, estava sem bicicleta.

Após ouvir notícias de amigos de que a Zona Sul tinha virado um lago, de carros boiando na 23 de Maio, e um temporal na Zona Norte, esperei para sair. As 20h achei que dava e no ponto de ônibus encontrei a Kátia Mello, colega de trabalho querida que ia para o mesmo lugar que eu. Uma das vantagens de utilizar transporte público é encontrar amigos sem querer (veja outras 10).

Estava na Barra Funda e tinha duas opções, considerando os ônibus que passam próximos. A primeira era arriscar um trajeto cruzando Pacaembu ou Perdizes em direção a Doutor Arnaldo, para, depois descer a Cardeal Arcoverde, meu ponto final. A segunda era optar por um ônibus que passa em frente ao Terminal Barra Funda, segue pela Avenida Sumaré, e então desce a Cardeal. Escolhi esta última (escolhi nada, foi o ônibus que passou primeiro…).

Sufoco
Entramos no ônibus já relativamente cheio, conseguimos dois lugares no corredor e fomos conversando. Papo bom, os dois de ótimo humor e, de repente, a Kátia crispa o rosto em um olhar preocupado. Olhei para a janela e vi o ônibus encostando no terminal, bem ao lado de uma fila com mais ou menos a população da China.

Entre uma bolsa e duas cinturas, deu para continuar conversando com a Kátia

Começou a entrar gente, o espaço do corredor foi sumindo  e, quando vi, estava com o pescoço torto quase deitado para frente para conseguir ver uma fresta do rosto da Kátia e continuar papeando. Lá fora, um mar de luzes vermelhas indicava que o caminho ia demorar.

É difícil não sentir raiva com a injustiça, a violência e a estupidez da situação. Carros e mais carros vazios parados no caminho, a maioria apenas com o motorista, ocupando o espaço que permitiria que o ônibus seguisse sua rota. E o ônibus cheio de gente, com as janelas fechadas por conta da garoa, esquentando. Trânsito, demora, as pessoas esmagadas lá dentro, todo mundo triste ou cansado (volta no começo deste texto e repara na cara das pessoas).

Eu e a Kátia descemos no final da Sumaré e decidimos caminhar pela Cardeal, margeando a insanidade do trânsito de São Paulo. Andando, chegamos antes de todo mundo. Da próxima vez que chover, volto de bicicleta, nem que eu tenha que procurar uma boiando na enchente mais próxima.

Leia também: Preço do ônibus dispara em todo o País. Novas tarifas afetam inflação e tornam mais difícil vida dos passageiros, que reagem com protestos nas capitais. Reportagem em PDF no Googledocs -> página 1 e página 2

Ex-secretário de transportes defende tarifa zero

Ba-Bilig-China (clique na imagem)

Lúcio Gregori foi secretário municipal de Transportes durante o governo da prefeita Luiza Erundina em São Paulo. Nesta entrevista ao Outras Vias, ele comenta o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo e nas demais metrópoles do país e fala sobre o projeto que tentou implementar durante seu governo e que defende até hoje: a tarifa zero para transportes públicos. Um dos inspiradores do Movimento Passe Livre,  Gregori defende que é preciso uma política nacional para melhorar a mobilidade urbana e defende que não faz sentido se pensar em economia como uma área separada da política. Confira os principais argumentos do ex-secretário separados por tópicos.

Reajuste das tarifas
Não gosto de discutir a pertinência do reajuste. Há casos em que é evidente o absurdo. Em São Paulo, houve um aumento absurdo de 2009 para cá, muito superior a inflação*. Aliás, no geral, essa discussão é recorrente. Há vários parâmetros, taxas de inflação, reajustes salariais, reajustes de preços que não acompanham a inflação. Qual índice seguiremos? O IPCA? O IGP-M?  Os reajustes salariais? Em linhas gerais, de ano em ano há reajuste, em alguns com mais justeza, em outros menos. Vamos dizer que um dos reajustes foi justo. Bem, isso não muda o problema central, que é que o ônibus no Brasil é muito caro.

(*Nota da redação: em janeiro de 2009, a passagem custava R$ 2,30 em São Paulo; em janeiro de 2011, o preço passou para R$ 3. A inflação acumulada medida pelo IPCA em 2009 e 2010 foi de 10,2%)

Yuriy-Galiakbarov-Ukraine (clique na imagem)

Preço absurdo
O metrô na cidade do México não custa nem 50 centavos*. Em 1992, quando fui secretário de Transportes da Luiza Erundina, o valor médio do ônibus era de 43 centavos de dólar. Se seguisse a taxa de dólar de hoje (1,70), isso daria 73 centavos de dólar. Mesmo colocando um câmbio de 3,40, que é o dobro do atual, fica R$ 1,46; não dá o preço da passagem atual. Por que isto? A explicação não é mágica. A Prefeita subsidiava fortemente a tarifa pensando no usuário de transporte. Através do sistema de contratação é possível separar o custo do transporte da tarifa cobrada. Com isso, dá para pagar subsídio diretamente para quem usa o ônibus. Assim ela conseguia esse valor.

(* Em 7 de fevereiro, o valor, convertido, equivalia a R$ 0,42)

Subsídios
É preciso separar o custo do transporte da tarifa cobrada*. Só assim é possível conseguir esse valor de tarifa. O Brasil carece de uma política pública nacional neste sentido. O Ministério das Cidades tem um Projeto de Lei que permite a separação do custo do transporte e da tarifa cobrada, mas ele não está parado no Senado. Pensar que o sistema precisa ser lucrativo é um equivoco. Tarifa de ônibus não precisa dar lucro. O sistema deve se reger de forma economicamente estável. Se adotarmos uma fórmula que não se pague, vai dar tudo errado. Dentro da economia capitalista, o sistema tem que ser equilibrado. É preciso ter receitas que cubram seus custos e garantam a renovação de frota, melhoria dos serviços, etc. Isso não se discute. O problema é que, quando o serviço é feito por concessão, que é o modelo em todos os lugares, a tarifa é colocada como forma de manter o equilíbrio financeiro do contrato. Ela não tem que ser. É preciso garantir o equilíbrio do sistema, mas não necessariamente pela tarifa. São necessários subsídios. Hoje, os únicos subsídios são limitados ao Bilhete Único e a outras gratuidades previstas em lei.

(* Em São Paulo, uma das cidades que faz a separação e paga subsídios para equilibrar o sistema, ao mesmo tempo que a passagem aumentou de R$ 2,70 para R$ 3 em janeiro, o valor repassado pela Prefeitura diminuiu de R$ 660 milhões em 2010, para R$ 520 milhões)

 

Fan-Jun-china (Clique na imagem)

Tarifa zero
Quem defende a gratuidade tem que ter clareza que estamos falando de política de transporte. Cada caso tem que ser discutido. É preciso pensar em quanto é gasto em tapar buraco, em asfalto, avenida nova, túnel, viaduto… Se com tudo isso remanejar as prioridades e ainda não assim o dinheiro não der, significa que temos uma questão política. Não existe economia pura e nem política pura. A economia é política, não dá para esquecer isso. E qual a economia política dentro de uma política de transportes no Brasil? De repente seria necessário instituir uma taxa de transporte para que os maiores beneficiários ajudem a cobrir os custos. Quem são os beneficiários, só os usuários? Não. As cidades não funcionam sem transporte. É um interesse coletivo. As empresas e lojas têm interesse, elas não funcionam sem os transportes. Precisamos de uma reforma tributária para possibilitar a tarifa zero.

 

Pedro-J-Méndez-Suárez-Cuba (Clique na imagem)

Transporte individual
No Brasil existe uma política pública clara de privilégio ao transporte individual. Isso se dá de variadas formas em todas as esferas. Não faltam exemplos. Quando da crise, se reduziu o IPI para aumentar o consumo de automóveis. Antigamente, a Marginal Tietê tinha duas faixas. Hoje tem 11 e não tem um único corredor de transporte coletivo. O Rodoanel foi feito para viabilizar mais trânsito de transporte individual. Em São Paulo, querem construir o Túnel da Água Espraiada, que vai custar uma fortuna. Existe uma política nacional de transporte individual.

Influência da mídia
Isso é um problema político: quem faz a cabeça de quem? Quando o prefeito X privilegia o transporte coletivo e vai em cima do automóvel, ele mexe com uma classe que é a que faz a cabeça das pessoas através da mídia. Os meios de comunicação estão nas mãos dessa classe.

Eko-Slamet-Indonesia (clique na imagem)

Vencedores e perdedores
Vivemos em uma realidade extremamente competitiva. Os americanos cunharam o termo “vencedores e os perdedores”. A indústria automobilística é hoje uma vencedora. Ela fez tudo certo para ela. A indústria plantou na nossa cabeça que carros representam liberdade, conforto, famílias sorridentes. Souberam fazer um produto de altíssima qualidade que se aperfeiçoou imensamente. Se pegar um Ford Bigode e comparar com qualquer 1.0 hoje vai ver a diferença. Eles foram habilidosos de se introduzirem no aparato público para implantar o sistema de transporte que eles planejaram. Trabalharam muito bem. A GM no começo comprava pequenas empresas de bonde e as fechava. Não é consideração moralista, eles foram competentes e ganharam. O transporte coletivo perdeu, foi traído. Qual o imaginário do transporte coletivo hoje? É um negócio ruim, lento, cheio, caro.

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P.S. 1 Os cartoons que ilustram esta página foram tirados daqui.

P.S. 2 Na edição do próximo domingo o jornal Folha Universal publica reportagem sobre o aumento das tarifas, com levantamento da situação de todas as metrópoles com mais de um milhão de habitantes do país.

P.s. 3 A pedido de Gregori, acertei hoje, sexta-feira, 11 de fevereiro, algumas informações imprecisas. A lei que separa o custo e o transporte da tarifa está no Senado e não aguardando regulamentação, como escrevi. Os valores de tarifa citados na segunda pergunta também estavam incorretos. E, por último, o Governo Federal reduziu ICMS somente dos usuários com necessidades especiais e não de todos. Ah, o entrevistado também pede para incluir entre suas observação a questão ambiental e lembrar que 85% da poluição do ar numa metrópole como São Paulo é decorrente do uso transporte do individual (carros). E diz ainda: “Acrescente-se acidentes (carros e motos, nestas uma ou mais mortes por dia), ruído,  estresse físico e psiquico no trânsito e horas úteis perdidas nos congestionamentos e se tem uma idéia do “estrago” decorrente do modelo de mobilidade individualista vigente“. Por último, ufa, Gregori diz que gostaria de ter sido inspirador do MPL, mas não é. Modéstia pura. Ele é sim uma das principais referências do movimento e fonte de inspiração constante para qualquer um que luta por cidades mais humanas e justas.


Os autores

Daniel Santini é jornalista, tem 31 anos e pedala uma bicicleta vermelha em São Paulo. Também colaboram no blog Gisele Brito e Thiago Benicchio.

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