Mulheres no trânsito – de bike

Por Aline Cavalcante*

Já tem tempo que desacredito nessas associações entre mulher e fragilidade. E a inspiração sempre foi minha mãe que enfrenta as dificuldades diárias com mais coragem, força e garra que muitos homens por aí. Largar o colinho dela não foi fácil e encarar a cidade grande – sozinha – menos ainda.

Na luta por uma rotina saudável, acabei trombando com a bicicleta e foi amor à primeira vista. Pedalar na cidade, como meio de transporte, me pareceu a idéia mais genial e idiota que tive ao mesmo tempo: ainda que parecendo óbvia a eficiência da bike em meus trajetos (de 10km no máximo) tava na cara também que ninguém apoiaria, pois o trânsito não é nada convidativo. Mas dane-se! Eu queria experimentar, sentir, formar opinião. E isso ninguém mudaria.

Comecei alugando aquelas bicicletas do Use Bike, no metrô, e fazia os caminhos nos finais de semana para conhecer rotas alternativas e perder o medo dos carros. Pouco tempo depois comprei minha primeira filhota (batizada de Amelie) e conheci os primeiros e fundamentais amigos da magrela – ela aproxima as pessoas. De lá pra cá os tempos de solidão (causados pela readaptação à cidade) e sedentarismo foram pro espaço! De quebra passei a admirar mais  São Paulo, ver beleza e vida onde só enxergava cinza e stress.

Encontro em fevereiro (foto: Aline Cavalcante)

Confesso que sempre gostei de praticar esportes, mas utilizar a bike como principal meio de locomoção, definitivamente não estava em meus planos. O carro que ganhei de presente de formatura, perdeu espaço na minha vida e se transformou em outra bicicleta incrível (batizada de Benedito, é bike-menino sim), além de uma poupança no banco mais gordinha.

Fato é, gostar de esportes só ajudou na inquietação frente à acomodação tão estimulada hoje em dia, que fez e faz as pessoas largarem hábitos saudáveis, como caminhar e correr, para viverem atoladas numa bolha de metal pra ir até na padaria da esquina.

Sim, o trânsito de São Paulo é um caos, é perigoso, é machista e injusto. Não vou dizer o contrário, os jornais não deixam. Mas posso dizer com propriedade que É POSSÍVEL ser e fazer diferente!! Basta ter vontade, atitude e iniciativa. O simples ato de deixar o automóvel de lado e encarar as ruas da cidade com uma bicicleta tem força incalculável.

Encontro das pedalinas em novembro de 2009. (Foto: Aline Cavalcante)

Representa o descontentamento com o modelo de sociedade estabelecido, representa a esperança que um dia o trânsito mate menos pessoas, representa a simples opção de querer me locomover do jeito que eu quiser. E se você prefere sair de carro, moto, ônibus, trem ou avião, respeite quem decidiu ir de bicicleta até o trabalho, escola ou parque. Por que a rua é de todos e o direito de ir e vir também.

Nesse contexto conheci as Pedalinas – coletivo de meninas que pedalam urbanamente em SP – e fez toda a diferença trocar experiências com garotas que sentem os mesmos prazeres e dificuldades que eu. Nos reunimos todo primeiro sábado do mês, a partir das 14:30 na Praça do Ciclista.

Fico feliz a cada nova bicicleta que cruzo, mas fico radiante quando em cima dela tem uma mulher. Espero poder influenciar mais e mais meninas que, assim como eu, acreditam e querem uma vida mais legal, alegre, cheia cores e amigos!

Cada um escolhe por quais rumos seguir e que caminhos trilhar. E independente da opção: Eu vou de bike!

Bate-papo com as Pedalinas

Domingo, dia 11/07, eu e mais outras Pedalinas estaremos no Espaço Impróprio (Rua Dona Antônia de Queiroz, 40, esquina com a Augusta), a partir das 18h para falar sobre como é ser mulher e ciclista no espaço urbano. A palestra é aberta a todos – ambos os sexos. Lembrando que bicicletas são sempre bem vindas. Participe, tire suas dúvidas, conheça e respeite quem fez da bicicleta um estilo de vida.

Visite o site das Pedalinas

* Aline Cavalcante é ciclista, jornalista, nasceu em Brasília mas é sergipana de coração. Faz pós em Jornalismo Multimídia, mora em São Paulo há 2 anos, é integrante do CicloBR e da Associação de Ciclistas Urbanos de SP (Ciclocidade), e luta por uma cidade mais humana. Pode ser contatada no e-mail alinizinhazona@gmail.com e no twitter @pedaline

9 Respostas to “Mulheres no trânsito – de bike”


  1. 1 Evelyn Araripe 08/07/2010 às 12:43 pm

    Sensacional!!!! Acho incrível mulheres que andam de bicicleta em SP! Baita coragem e determinação!

    Parabéns Aline. Que outras mulheres se inspirem em você=)

    Beijos,
    Evelyn

  2. 2 Márcio Campos 08/07/2010 às 1:26 pm

    Oi, pequena gigante

    As mulheres pedalando nas ruas, não fosse pela graça(meu lado machista, sincero, mas provocador aqui, rs), são estratégicas(meu lado pragmático).

    Porque elas são a evidência do que é possível fazer de bicicleta em São Paulo. Se a mulher é vista equivocadamente quase sempre pela “fragilidade”, então vê-la pedalando nas ruas convenientemente humaniza muito a cena(pragmatismo oportunista meu).

    Nem todas se sentem uma Aline nas ruas, tomadas da confiança, do entusiamo que faz avançar sobre o que querem, mas é assim, as precursoras dão às demais a confiança necessária. Porque dificilmente um homem pedalando serve de incentivo para uma mulher bailar com confiança entre os carros por aqui, falo por experiências sem sucesso. É questão de identificação.

    Já muitas mulheres pedalando pode ter efeito sobre todos os motoristas em geral. Aproveitemos descaradamente.

    Uma felicidade sem tamanho enquanto em sampa estiver, é o que quero para você.

    bj Márcio Campos

  3. 3 valdinei calvento 08/07/2010 às 2:03 pm

    Ae Alineeeee!
    Guerreira!

    Demais o post, coloquei lá no Igualvocê.
    Com certeza vai incentivar muitas garotas que ainda tem algum receio.

    😉

  4. 4 Juliane Oliveira 08/07/2010 às 3:27 pm

    Lembro da primeira vez que disse pra minha mãe que eu ia sair pedalando por ai. Ela olhou bem sério e disse que eu podia ir, mas que não ultrapasse o quintal. Agora tenho nela a minha maior incentivadora.
    =)

    E também admiro muito a determinação da Aline. Fé em Deus e força no pedal Aline= @pedaline

    Abraços

    @julinelpa

    Juliane Oliveira

  5. 5 Nataly Gonçalves 08/07/2010 às 8:00 pm

    É nóis nas vias!!!rs

    Amiga bjs

  6. 6 Paulo Barreto 09/07/2010 às 7:36 pm

    Aline

    É realmente impressionante como a bicicleta aproxima as pessoas. Conheci várias pessoas ao começar a partiricipar de passeios em trilhas em torno de Belém-PA.

    Abaixo o site do grupo do qual faço parte:

    http://www.eart.esp.br/index2.php

  7. 7 Julia Z 13/07/2010 às 4:38 am

    Estou iniciando nesta jornada também. Obrigado pela inspiração. bjuz

  8. 8 andre luiz 13/07/2010 às 7:43 pm

    parabens!!!!
    um carro a menos na rua é uma pessoa a menos estressada atras do volante!parabens por levantar essa bandeira. ABRAÇOS ANDRE.


  1. 1 Eu Vou de Bike – Bicicletas, Lazer e Transporte Urbano » A semana das bicicletas nos blogs Trackback em 12/07/2010 às 4:46 am

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Os autores

Daniel Santini é jornalista, tem 31 anos e pedala uma bicicleta vermelha em São Paulo. Também colaboram no blog Gisele Brito e Thiago Benicchio.

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